sexta-feira, 19 de junho de 2020

Coronavírus: Prefeitura de Bocaiuva afirma que Consórcio Linhão desrespeitou decreto de suspensão de atividades


Equipes nos alojamentos da empresa — Foto: Prefeitura de Bocaiuva

Segundo prefeita, decreto foi necessário em função do aumento de casos da Covid-19. Além de paralisar atividades, trabalhadores de outros município têm que ser retirados. Consórcio lamentou decisão, disse que adotou medidas de prevenção e analisa se irá questionar decisão na Justiça.


Equipes nos alojamentos da empresa — Foto: Prefeitura de Bocaiuva

Servidores dos setores de Fiscalização e Epidemiologia da prefeitura de Bocaiuva estiveram nesta quinta-feira (18) nos alojamentos onde ficam os trabalhadores do Consórcio Linhão MG-BA (lotes 14, 15 e 16). Nesta quarta (17), a prefeitura deu 24 horas para que as atividades fossem suspensas por 20 dias e para que os funcionários de outros município fossem retirados.

A prefeita Marisa de Souza Alves (PSB) fala que o município comunicou à Polícia Militar e ao Ministério Público de Minas Gerais sobre o desrespeitos às determinações. Ela afirma que o decreto foi necessário em função do aumento de casos confirmados da Covid-19. Dos 30 que Bocaiuva tem, 13 são de funcionários do consórcio. Desses, apenas três são de moradores de Bocaiuva.

O decreto estipula ainda que os empregados residentes no município precisam ficar em isolamento social pelo prazo de 20 dias, sob responsabilidade da empresa.

A assessoria do consórcio lamentou a decisão da prefeitura e informou que adota medidas de prevenção ao coronavírus em suas operações. A nota diz também que um plano de desmobilização das atividades foi traçado e que analisa medidas judiciais para questionar a decisão do município. (Leia nota completa abaixo)

De acordo com a prefeita, o consórcio tem 40 trabalhadores residentes em Bocaiuva e mais de 600 que vieram do Nordeste devido à necessidade de mão-de-obra específica nesta fase de atividades.

“Temos um caso de um funcionário que testou positivo, ficou em casa e não comunicou à família. A esposa trabalha em uma autarquia municipal muito importante para o funcionamento da nossa cidade, mas tivemos que colocar todos os funcionários desse setor em quarentena”, fala.

Marisa de Souza ainda destaca que trabalhadores do consórcio que desempenham suas funções em outros municípios, como Buenópolis, se hospedam em Bocaiuva. Ela cita ainda uma outra situação, uma van com 19 funcionários que atuam em Janaúba foram abordados na barreira sanitária quando chegavam para se hospedar em Bocaiuva.

A prefeita reconhece que o consórcio adotou medidas de prevenção ao coronavírus e apresentou um plano para retomada das atividades quando uma primeira suspensão foi determinada. Mas com o aumento no número de casos da Covid-19 e devido à relação direta desses números aos trabalhadores, foi preciso estabelecer medidas mais rígidas.

“Há um grande temor sobre o que vai acontecer. Caixão não tem gaveta, não queremos mortes com dinheiro na conta. Sei que a decisão não agrada a todos, mas minha missão é tentar fazer o melhor pela população. O valor ecônomo não é comparável à vida”, destaca.
Marisa de Souza fala ainda que há uma preocupação relacionada à estrutura para atender os casos da Covid-19. Nas formas mais graves, é preciso que os pacientes sejam internados em UTI, mas o município não possui esse tipo de leito.

“Nosso hospital municipal tem 64 leitos, eu reservei alguns para montar uma ala de isolamento da Covid-19. Nossa pactuação e nosso porte ainda não comportam uma UTI, mas estive na Superintendência de Saúde e solicitei em caráter de urgência que sejam credenciados alguns leitos de UTI durante a pandemia”, explica.

A prefeita explica que Bocaiuva atende a vários municípios da região, entre eles Guaraciama, Engenheiro Navarro e Francisco Dumont.

“A saúde precisa ser pensada como um todo, não pode ser centralizada em Montes Claros, como é o nosso caso. Fora que nosso hospital é mantido com recursos municipais. Com a pandemia, o presídio foi esvaziado para receber detentos de todo o Norte de MG. Tivemos um caso de um preso que precisava de fazer uma amputação, teve que passar por um procedimento ao ser baleado no tórax e ainda testou positivo para Covid-19. Ele foi atendido no nosso hospital. O cenário é todo muito complexo.”

O episódio mencionado pela prefeita é o do preso que estava no hospital municipal para fazer a amputação e conseguiu tomar a arma de um dos agentes responsáveis pela escolta dele. Em função disso, foi baleado. Durante a internação, os profissionais de saúde descobriram que ele estava com coronavírus.

O que diz o consórcio
Leia nota na íntegra: O Consórcio Linhão MG-BA lamenta a determinação da prefeitura de Bocaiuva (MG) e destaca que as acusações feitas não procedem, uma vez que vêm sendo adotadas todas as medidas de prevenção à Covid-19 em suas obras desde o início da pandemia.

Contudo, o consórcio está acatando a decisão de desativar temporariamente a operação no município e desenhou um plano para desmobilizar seus colaboradores até o fim da semana. É importante pontuar que são mais de 400 funcionários alocados na obra, o que tornou irreal o prazo inicial concedido pela Prefeitura.

O consórcio reforça ainda que vem adotando todas as medidas de prevenção à Covid-19 em suas operações, por isso está avaliando junto a sua área jurídica e ao cliente medidas judiciais para questionar a determinação da prefeitura de Bocaiuva, que afeta não só a empresa como as famílias que dependem de sua operação.

Em suas obras, o consórcio vem realizando exames diários de saúde e testagem de seus colaboradores, além de monitorar e isolar preventivamente possíveis alvos de contágio. Também foi estruturado um comitê com as principais lideranças para adotar medidas contra o novo coronavírus, acompanhando ainda possíveis diagnósticos positivos junto às Secretarias de Saúde e a Vigilância Sanitária da região.

Exemplos de ações adotadas:
- realização de testes rápidos e monitoramento de todos os colaboradores;
- equipe de saúde exclusiva para acompanhamento e atendimento da doença;
- interface e atualização junto à Secretaria de Saúde e Vigilância Sanitária da região;
- higienização e desinfecção das instalações, alojamentos e veículos de transporte;
- entrega de kits de higiene e disponibilização de álcool gel em todos os ambientes;
- sinalização nas obras com orientações de prevenção e uso de EPIs;
- treinamento e orientação das equipes, incluindo os profissionais de cozinha sobre os protocolos de higiene e segurança.


Por Michelly Oda, G1 Grande Minas


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