domingo, 15 de junho de 2014

Hábito de pagar almoços e jantares para elite de servidor público em prefeituras abre as portas para a corrupção


Vai longe o tempo em que a política era terreno propício para a ação dos idealistas. Se é que esse tempo existiu. Pequenos desvios de condutas abrem as cancelas que levam às grandes maracutaias, de modo que os agentes políticos, em especial aqueles em cargos executivos, deveriam ser mais zelosos na relação com a coisa pública durante a vigência do mandato.
Vou ficar em um pequeno e elucidativo exemplo do que se pretende dizer aqui: vejam essa farra generalizada já há um tempo em voga nos pequenos municípios do norte-mineiro [e certamente de todo o país] em servidores públicos, normalmente em cargos de confiança, abusam  da prerrogativa não validada pelas urnas de frequentaram os melhores restaurantes de suas cidades e mandar a conta para a contabilidade do município. O prefeito que concorda com a prática sinaliza frouxidão ética e moral inaceitável para quem tem a responsabilidade de cuidar do interesse comum.
Querem um exemplo? No acordo de delação premiada firmado com o Ministério Público de Januária, em novembro de 2013, o ex-secretário de Governo e Administração da Prefeitura de Itacarambi Nestor Fernandes de Moura Neto descreveu, para os atônitos promotores os promotores Franklin Pereira Mendes e Daniela Yokoyama, um verdadeiro manual de corrupção na administração pública municipal.
O ex-secretário Nestor narrou, com riqueza de detalhes o esquema fraudulento montado pelo empresário Marcos Vinicius Crispim, o Corby, preso há pouco mais de um ano, sob a acusação de comandar ‘organização criminosa’ responsável por fraudar licitações em várias prefeituras norte-mineiras.
Há de tudo um pouco na narrativa do ex-secretário sobre as peripécias de Corby et caterva em Itacarambi e outras cidade da região: direcionamento de licitações, fraudes em documentos públicos, suborno e até o pagamento de contas pessoais, em que se encaixam festas privadas, combustíveis, estadias em hotéis e o velho hábito de comer bem às custas do contribuinte.
Segundo Nestor, a turma do ex-prefeito Rudimar Barbosa forjava pagamentos de diárias em viagens inexistentes para bancar “churrascos de alto padrão”, que incluíam até bebidas alcoólicas. Ele diz que tentou acabar com a vida boa de certa elite de servidores, responsável pelo gasto médio mensal com almoços e jantares de R$ 5 mil. Ainda segundo o ex-secretário, Corby  paga todas as despesas de Rudimar e enviava a fatura para a prefeitura em cobranças por serviços jamais realizados.
O ex-secretário e sua mulher, Daniela Pinto Mota, nomeada chefe do setor de licitações da Prefeitura de Itacarambi, foram presos pela Polícia Federal, em maio de 2013, na esteira da operação Sertão Veredas, que foi desdobramento da operação Padrinhos de Casamento, realizada no final de 2012 em Itacarambi, e que fazia alusão ao fato do ex-prefeito Rudimar e o empresário Corby terem sido os padrinhos do enlace entre Nestor e Daniela. O ex-secretário sabe do está falando, porque foi protagonista e testemunha ocular das muitas das fraudes listadas na investigação.

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