sexta-feira, 13 de junho de 2014

Suposto dono de empresa “fantasma” presta depoimento ao MP de Manga


Carteiras escolares da Prefeitura de Manga amontoadas sobre passeio público
(Por Fábio Oliva) Ele estudou apenas até o segundo ano primário. Seu patrimônio resume-se a uma bicicleta e uma motoneta, que avalia em R$ 100,00 e R$ 1 mil, respectivamente. Anda com chinelos de borracha e costuma vestir bermuda, camiseta e boné. Como serralheiro, ganhava cerca de R$ 80,00 por semana. Mas no papel, entre 2013 e 2014, o simplório Silvano Ferreira de Souza já teria recebido mais de R$ 110 mil através de notas fiscais de serviços supostamente prestados à Prefeitura de Manga. Ele garante que nunca viu a cor desse dinheiro.
Em depoimento prestado ao Ministério Público de Minas Gerais, Silvano Ferreira de Souza contou como seus documentos e dados pessoais foram usados para abrir empresa individual em seu nome, transformando-o em “laranja” de um esquema através do qual já teriam sido emitidas dezenas de notas fiscais para a Prefeitura de Manga.
Silvano informou que trabalhava há dois anos e meio para o empresário José Carlos Rocha, o “Zé Graia”, que seria primo do prefeito Anastácio Guedes Saraiva e do deputado estadual Paulo Guedes, ambos do PT. Afirmou que nunca recebeu salário integral, férias ou 13º. Era remunerado com cerca de R$ 80,00 por semana. Há algum tempo, ele disse, manifestou ao patrão o interesse de abrir uma conta bancária, para começar uma poupança.
Zé Graia é irmão de Rosária Carlos Rocha, chefe do Departamento de Pessoal da Prefeitura de Manga, contratada como Diretora Municipal I, pelo sistema de recrutamento amplo, com salário de R$ 1,9 mil, mais 50% de gratificação. É irmão também de Adolfina Carlos Rocha, secretária do prefeito Anastácio Guedes Saraiva, contratada como Diretora Municipal II, pelo sistema de recrutamento amplo, com salário de R$ 1,4 mil.
De acordo com Silvano, o assunto ficou esquecido até o início de 2013, quando então Zé Graia pediu seus documentos pessoais alegando que tinha um amigo que trabalhava em um banco e que contaria com o auxílio deste para abrir a conta, ficando de trazer-lhe os documentos já preenchidos, apenas para serem assinados, o que de fato ocorreu, mas não sabe se a conta foi efetivamente aberta.
O serralheiro declarou que chegou a ser alertado por um colega de trabalho, que achou estranho o fato. Porém, Silvano diz que permaneceu de boa-fé, só se apercebendo da gravidade da situação após a divulgação do fato pela imprensa e a chegada de intimações do MPMG para que prestasse esclarecimentos. Foi quando, segundo ele, descobriu que os seus documentos tinham sido usados para a abertura da empresa, 16 dias após a posse do prefeito Anastácio Guedes Saraiva. Informou ainda que não atendeu às duas primeiras intimações do MPMG por determinação de Zé Graia, para quem isso poderia “dar galho”.
Silvano Ferreira de Souza declarou que jamais recebeu qualquer quantia da Prefeitura de Manga, mas assim que o assunto veio à tona, Zé Graia teria lhe prometido uma motocicleta nova e um lote, bens que jamais lhe foram entregues. Afirmou ainda que um colega de trabalho lhe teria dito para “sair fora”, ao argumento de isso daria problema, “pois tinham notas sendo emitidas pelo dobro do valor”.
Segundo apurou Silvano, o responsável pela contabilidade da empresa "fantasma" seria Nilson Crisóstomo, o mesmo contador da Prefeitura de Manga.
Gerente da agência do Banco do Brasil em Manga confirmou a tentativa de abertura de conta bancária em nome da firma individual Silvano Ferreira de Souza, por Zé Graia e um engenheiro da Prefeitura de Manga. A conta não chegou a ser implementada por falta de alguns documentos que ficaram de ser entregues posteriormente.
Silvano disse ainda ao MPMG que não participou de nenhum processo licitatório realizado pela Prefeitura de Manga, embora se lembre de ter sido chamado á Prefeitura para assinar alguns documentos que não lhe deixaram ler nem sabe para qual fim se destinavam.
Em suas declarações ao MPMG, o serralheiro também revelou que durante o período em que trabalhou para Zé Graia, foram reformadas apenas cerca de 500 carteiras escolares, utilizando-se a infraestrutura de serralheria pertencente a Ademar, já que Zé Graia possui máquinas, mas não possui ponto comercial.
Enquanto a situação econômica de Silvano Ferreira de Souza apresenta-se modesta, os sinais exteriores de riqueza de Zé Graia vão se tornando indisfarçáveis. Recentemente ele iniciou a construção de uma nova casa em Manga, na Rua Manoel de O. Viana, nº. 22. Na obra, pedreiros e serventes trabalham a todo vapor (fotos abaixo).

LENTIDÃO
A lentidão com o desfecho desse caso desagrada ao vereador Evilásio Amaro Alves (PPS), autor da denúncia que levou o assunto ao MPMG. Desde que a denúncia foi apresentada, já passaram pela Comarca de Manga três promotores de justiça. O constante rodízio de promotores é apontado como uma das causas da demora no andamento das investigações.

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